Já dizia um grande amigo: A música não te quer a prestação.
Ou você se dá por inteiro, ou nada terá dela.
Nessa época eu tentava terminar a faculdade de ciência da
computação, trabalhava 10 horas por dia, namorava e fazia um curso maluco aos
sábados, o dia todo. Todo o dia eu me perguntava: Quando eu conseguirei me dar
por inteiro ao que realmente amo fazer?
Passado esses anos, a faculdade acabou, o trabalho mudou, o
namoro se foi e esses malditos cursos de sábado, não faço nunca mais. O amor à
música continua intacto, mesmo ainda não conseguindo me dar por inteiro a ele.
Mas afinal, será que o Raul tinha razão? O meu amor pela música está fadado a ser um
amor platônico, sem futuro?
A música em sua essência ‘seca’ é matemática pura e estudar
matemática não é uma coisa tão mágica assim (sem mimimi engenheiros e exatóides,
só vcs gostam de números!). A formação de um músico é tão ou mais difícil que
qualquer formação regular por ai, a começar do vestibular. Quando você vê um
virtuose na guitarra como o Steve Vai ou um ‘cara de louco’ como o Derico do
sexteto, não se engane. Pra chegar nesse nível, ele precisou estudar muito e ‘estudar
muito’ quer dizer ao menos 10 anos, 8 horas por dia, todos os dias. É assim que
se formam os grandes músicos, ou você acha que eles aprendem nos botecos da
vida?
Eu estudei pouco, por isso estou bem aquém do que eu
realmente gostaria de saber para poder me expressar através da música. Mesmo
assim, do meu jeito, não deixo de tentar, porque a música faz parte da minha
vida de um jeito que eu não sei explicar. Às vezes, me sinto até um médium
psicografando, porque quando escuto o toquei ou leio o que escrevi, parece que
não foi feito por mim. Daí a constatação: A música não quer seu tempo, sua
dedicação ou seu esforço. A música quer sua alma e somente os que se doam a
esse ponto conseguem se expressar ou entender realmente o seu significado. Mas
a música para ser completa não quer só a alma de quem a faz, mas também a alma
de quem a escuta.
Por isso, o músico não existe sozinho! Para que a música
exista, alguém precisa criá-la e fundamentalmente, alguém precisa ouvi-la. Como
o som que não se propaga no vácuo, a música só existe quando alguém a está escutando.
Então, nesse dia do músico, nada mais justo que homenagear
exatamente o elo que torna tudo isso mágico. O público.
Vocês que se encantam e aplaudem os artistas, profissionais
ou meia boca como eu, dos mais variados estilos. Vocês que emocionam e se
emocionam com a música também deveriam ser chamados de músicos, porque sem
vocês a música simplesmente não acontece.
Valeu por esses 10 anos, que venham mais infinitos.