sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Reflexões de um final de semana de finados
Falar sobre a morte numa segunda feira é como falar de feijoada na quarta ou de cerveja na sexta, a não ser é claro que você seja um new hippie, que a essa hora está cochilando enquanto assiste entre uma pescada e outra a Ana Maria Braga.
O medo da morte não é o medo da dor, até porque morto não sente dor. O medo da morte também não é medo da saudade, já que a saudade é de quem fica. O medo da morte também não é o medo do fim, pois não se sabe ao certo se a morte é realmente o fim.
Então, o que é a morte?
Não existe nenhuma certeza sobre o que é a morte e é ai que descobrimos o motivo de tanto medo: O desconhecido.
Por essência e por sobrevivência, sempre tememos o desconhecido. Fomos treinados pela natureza para temer o que não nos é explicável, o que não nos é palpável, o que não conseguimos enxergar. A morte pode ser o fim de ciclo biológico, pode ser um descanso infinito, o começo de um novo ciclo ou simplesmente a continuidade da vida, em outras dimensões. Pode ser a passagem pro inferno ou paraíso, evolução de alma, putrefação do corpo, podemos encontrar com entes queridos, entidades de luz, 50 virgens, capetas e capirotos de todo tipo. Podemos ainda viver em outros planetas, voltar ao passado, viajar para o futuro. A morte pode ser apenas uma ilusão do tipo Matrix ou algo irrevogável e eterno. A morte pode ser qualquer coisa, já que seria uma enorme prepotência de um ser que usa apenas 20% de sua capacidade intelectual, atribuir alguma certeza a um tema tão obscuro, quanto o tamanho e conteúdo do universo.
A Morte é um grande evento, sem dúvidas. Uma grande metamorfose que somente a quem percorrer o caminho do túnel saberá responder, mas a lição que morte ensina em vida é que o hoje é o dia mais importante, agora é o único momento que interessa e que nossa vida deve ser pautada no amor diário, no bem constante. Tudo que te faz bem é pra hoje.
A morte põe em prática um plano bem antigo de Deus, nivelando-nos no mesmo patamar. Diante dela, suas conquistas, seus bens materiais, seus diplomas, sua arrogância, suas habilidades, sua prepotência, sua honestidade, sua devoção, enfim, sua vida toda, não tem nenhuma relevância, ela chegará para todos. Assim como para Deus, para a morte todos são iguais, então pode se dizer que o morte é divina.

Canto para minha morte - Raul Seixas

Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...
Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

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